Vila Celeste/Ipatinga/MG


“Eu me casei aos 16 anos. Um dia, uma amiga passou na minha casa vendendo uma colcha. Eu tinha acabado de comprar a cama para minhas filhas, e queria muito arrumar o quarto delas. Mas como estava tudo muito difícil, e que tudo era tão difícil, era mais difícil antigamente, queria muito comprar a colcha. Minha amiga me propôs dividir a compra em muitos pagamentos. Então comprei. Quando meu marido chegou, ele ficou tão bravo! Chorei muito, e ele pediu pra que eu devolvesse a colcha. Eu chorei muito, sabe, foi tanta humilhação que eu fiquei com muita vergonha, me senti a pior das mulheres. Não podia comprar uma colcha. Fui à casa da menina e expliquei: se você puder guardar pra mim essa colcha, vou comprar, vou trabalhar. Sei fazer nada não, sei fazer pano de prato. Minha amiga me disse para eu levar a colcha de volta e pagar do jeito que desse.  Peguei a colcha e escondi.
Quando eu terminei de pagar a colcha, eu forrei ela na cama e falei pro meu marido ao questionar sobre as colchas: as colchas nunca foram, nunca saíram de nossa casa, eu precisava provar pra mim que eu teria condição de pagar essa colcha, que eu não era aleijada, e eu consegui pagar, sem sair de casa, cuidando do meu filho. Fiquei muito feliz por provar pra mim que eu era capaz.
 Eu agradeço ao meu marido por ele ter feito isso, senão eu seria essa mulher até hoje.”

Motivadas pelo desejo de aprender, de se tornar pessoas melhores e, principalmente, de criar um espaço para o encontro, Laura Ferreira e Maria Aparecida se uniram e criaram o grupo Mulheres Amigas, no ano de 2005.

E é no bairro Vila Celeste, bairro que com o seu nome homenageia uma das primeiras moradoras do lugar, “Celeste”, e usa nomes de pássaros para nomear suas ruas, que o grupo Mulheres Amigas vai se fortalecendo.

No princípio, o grupo chegou a ter trinta e duas participantes, entre crianças, adultos e idosos, e contava com cursos de biscuit, pedraria e pintura. 

Hoje, o grupo é formado por seis mulheres, Laura Ferreira, Lúcia Maria, Lucilene Ferreira, Maria das Graças, Nelcina Pires e Ruth Gonçalves; mulheres, mães, avós, esposas e artesãs, grandes exemplos de vida.

Com o tempo e o acompanhamento da monitora e fundadora do grupo, Laura Ferreira, as mulheres foram aperfeiçoando suas técnicas. A pintura em tecido foi ganhando mais espaço no universo dessas mulheres. Hoje, entre conversas, receitas, cafezinhos e muita cumplicidade, o grupo se reúne na casa da Maria das Graças (Gracinha) para pintar panos de prato cheios de lembranças saborosas.

Nas peças, vão retratando suas histórias, suas recordações, receitas, flores, frutas.

Quando pergunto por que elas vêm ao grupo todas as segundas-feiras religiosamente, elas são unânimes em afirmar que as atividades artesanais são fundamentais na vida delas.

“Eu tive um grande prazer de tá aqui nesse grupo, é muito bom pra mim porque as tristezas que a gente tem no dia a dia a gente esquece. As meninas são muito amigas.”

“O artesanato veio fazer parte da minha vida, pois eu sou muito curiosa. Pra você ter uma ideia, eu já fiz até um tamanco. Achei uma caixa de verdura na rua e, como não tinha dinheiro pra comprar o calçado, acabei fazendo o meu próprio. Eu sempre pensava em fazer o que precisava.”

“Eu venho aqui por amor. Se fosse olhar a saúde, eu não viria. Venho mais por amizade, gratidão. No futuro, quero ajudar as minhas companheiras, como gratidão pelo que fazem para as meninas.”

“Toda segunda eu tô aqui. Só não venho se eu tiver consulta, mas toda segunda venho mesmo.”

E elas vão pintando uma nova vida, cheias de perspectivas, amizade, companheirismo e amor.