Bruna Roque e Esdras Aurélio
Quando visitamos os grupos de artesanato de Ipatinga, o que nos impressionava nas artesãs locais eram suas técnicas. Mas como elas podem se reaplicar?
O grupo de artesãs Mulheres Amigas domina a técnica de pintura em tecido e os desdobramentos que se dão com suas tintas e pincéis, como a prática do estêncil. Sabe-se que a pintura não foi desenvolvida na nossa era e que essa forma de expressão artística existe há muito tempo na história da humanidade, como demonstram as pinturas rupestres, realizadas por homens pré-históricos em rochas ou cavernas.
Hoje, por sua vez, a pintura se estabelece de diversas formas e em diversas plataformas. Entretanto, a que nos interessa, nesse instante, é a forma que a pintura se mostra diante das artesãs e como sua aplicação em tecidos se torna um artesanato caseiro popular. Percebeu-se no grupo seu emprego em uma grande diversidade de utilitários domésticos como panos de prato, caminhos de mesa, forros de bandeja, e o fato de essa técnica ser praticada por satisfação própria ou como fonte de renda.
De qualquer maneira, essa técnica guarda seus segredos, basicamente, na mistura de cores e aplicações de calor em proporções, criando matizes, sombra e luz nos objetos pintados. Nessas misturas, percebem-se as reações, criando uma forma particular de pintura, na qual a boa técnica está no tipo de pintura que o artista realiza e no uso adequado dos elementos que a caracterizam desde a preparação do suporte às últimas pinceladas.
Vale dizer ainda que a pintura se difere das outras artes por se tratar de uma expressão que se apresenta num espaço bidimensional, que propõe à mente humana uma leitura dos seus elementos estéticos, como a figura, a forma, a textura e a cor.
Já o grupo Arte Faz União estabelece seu trabalho na prática do bordado e suas variações, como ponto cruz, vagonite, bordado livre.
É sabido que o bordar visível, público, espectacular, ostentatório, caro, simbólico e economicamente valorizado era produzido por homens e destinava-se à decoração das vestes das elites sociais e religiosas ou de acessórios têxteis usados em cerimônias políticas ou litúrgicas. E, em contrapartida, a elaboração do bordado destinado a um uso doméstico, íntimo, escondido ou reservado a acontecimentos do foro familiar, testemunho próximo dos mecanismos dos corpos e das paixões, pertencia às mulheres.
No caso desse grupo de artesãs, a técnica do bordado as faz comunicar com o mundo, preenchendo panos com alegorias prontas. Mas tudo na mais correta escolha de cores e pontos.
As diferenças entre essas práticas tão distintas, despertariam em nós o desafio de destrinchá-las e estabelecer novas conexões juntamente com as artesãs. Num processo de escamação, encontraríamos o íntimo de cada técnica, exacerbando suas potencialidades. A fácil aplicação da pintura e sua reprodução, em contrapartida à rica variação dos pontos dos bordados e seu apelo estético.