Esperança/Ipatinga/MG



“Esperançacrença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal. A esperança requer uma certa perseverança, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. O sentido de crença deste sentimento o aproxima muito dos significados atribuídos à .

Esperança é também um bairro da cidade de Ipatinga que foi construído após a chegada da Usiminas à região. Suas ruas levam o nome de flores. Uma forte ligação com o bairro, a comunidade e o desejo de compartilhar suas histórias de vida e superar os desafios do cotidiano fizeram com que Maria do Carmo (Carminha) e Cleonidia Cerqueira se reunissem no final do ano de 2005 para criar o grupo Arte faz União.

No começo, as mulheres se encontravam em um cômodo da casa de Cleonidia e, quando passaram a reunir mais de quatro pessoas, Taninha gentilmente cedeu o terraço de sua casa para os encontros das terças e sextas-feiras, onde elas se reúnem até os hoje.

“E como a Cleonidia não sabe fazer nada sem festa, o nome foi escolhido em um concurso. Teve votação e tudo mais. O vencedor ganhou um corte.” (Peça de pano suficiente para um objeto de vestuário)

O grupo já fez vários cursos, como dança sênior e pintura. Cleonidia nos conta que o grupo já formou no mínimo nove professores de pintura. Mas foi no bordado que as mulheres se encontraram e se fortaleceram. Algumas bordam para aumentar a renda, passar o tempo, descansar ou se expressar. Algumas sonham em viver do bordado livre. Outras nem bordam, mas pelo ofício da costura também participam do grupo.

Atualmente, participam do grupo Arte faz União, Arlete da Costa, Cleonidia Cerqueira de Freitas, Creuza dos Santos Assis, Daíza Cerqueira de Freitas, Dalva Malta de Abreu, Darci Vidal, Judite Araújo, Ladir Nogueira do Carmo, Luzia Medeiros Lana, Luzinete Alves Andrade (Nete), Mair Nogueira do Carmo, Maria Antonia Fernandes dos Santos, Maria de Fátima Souza, Maria do Carmo Vitor (Carminha), Nadir do Carmo Nogueira, Nair Maria Silva, Odila Mendes, Quita Machado Damaceno, Sebastiana Duarte (Taninha), Selma Geralda Araújo. São mães, avós, bisavós e mulheres vindas de várias partes do interior de Minas, que viram nossa Ipatinga crescer e se transformar em uma cidade industrial. O bordado sempre fez parte da vida dessas mulheres. Quase todas aprenderam a arte com suas mães, em uma época em que se aprendia o ofício na juventude.

Antigamente, a mãe ensinava a bordar. Pra casar, tinha que saber bordar, costurar e remendar. Os homens gostavam das mulheres que faziam a obrigação completa. Quando cheguei aqui em Ipatinga, eu bordava muito, inclusive mantilhas que as mães encomendavam para o batizado dos seus meninos.”

 “Como diz aquele hino da igreja, a gente precisa trabalhar. Libertação se encontra no trabalho. Mas há dois modos de se trabalhar - há quem trabalha escravo do dinheiro, há quem procura o mundo melhorar. Então eu quero melhorar não só o mundo, mas quero ajudar minhas colegas a serem melhores. Tenho o prazer de ensinar e ver a pessoa aprendendo. E se eu não bordar, se eu ficar na cama, pensando na falta do meu filho, eu entro em desespero.”

Depois de toda uma vida criando os filhos e hoje com os netos, para fugir da solidão, depressão e burlar a ociosidade, essas mulheres buscam na arte do bordado espaço para o encontro com a vida. E nesse ritual que é o tecer, vão recordando suas histórias, curando suas feridas.


“Linha do destino prevê e anuncia,
a linha das mãos identifica,
linha do tempo conta histórias,
linha de parentesco mostra quem sou, é a minha base,
as linhas do meu rosto mostram rugas, a minha real-idade.
Linha de partida me leva a algum lugar, a um mundo desconhecido,
Linha de chegada me traz malas e bagagens de volta a Ítaca.
Nas linhas do meu caderno, aprendi a escrever, o que me abriu um mundo de possibilidades.
É nas linhas da vida onde tudo começa. Com inúmeras linhas eu me bordo, costuro, me desenrosco, me alinho e me aprumo na tentativa de me manter inteira.”
(Fragmentos da poesia da “Linhas des-a-linhas” ou “Linhas e entrelinhas” por Ana Miranda, 2010)