Carla Paoliello
É muito comum a pergunta “quem é você?”, apesar da difícil resposta. O que é identidade? Como é que se registra a identidade? Ela é simplesmente aquilo que se é? Ou é um significado cultural e socialmente atribuído?
Para Tomaz Tadeu da Silva, em seu artigo intitulado A produção social da identidade e da diferença, quando a “identidade é concebida para ser uma positividade (aquilo que sou), uma característica independente, um fato autônomo, ela só tem como referência a si própria: ela é autocontida e autossuficiente”. Ela é a apresentação do indivíduo, seus dons, aspirações, essência, heranças, desejos e sonhos que se misturam com suas máscaras, responsabilidades, dores e alegrias.
Entretanto, a constituição da identidade também tem a ambiguidade como marca. A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam as operações de incluir e de excluir. Dizer "que/o que sou" significa também dizer "quem/o que não sou". Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções sobre quem pertence e sobre quem não pertence, entre indivíduo e coletivo, entre o que é próprio e o que é alheio, entre igual e diferente.
Kátia Maheirie, no artigo Constituição do sujeito, subjetividade e identidade, acrescenta que identidade tem o significado de uma unidade de semelhanças se fechando na permanência. Sua tendência é para a fixação, mas a fixação é uma impossibilidade. Segundo esta autora, a identidade é “contraditória, múltipla e mutável, ela pode ser traduzida como uma síntese de identificações em curso”, uma vez que na busca pelo processo identitário os seres se apresentam sempre em estado de mudança, passagem, inquietação e/ou transformação.
Para o sociólogo Sousa Santos, identidades só podem ser compreendidas como “resultados sempre transitórios e fugazes de processos de identificação”, e assim, é um conceito que não pode ser compreendido de forma estática, como algo pronto e definitivo, visto que é construção incessante de si em movimentos contraditórios.
No nosso projeto, a busca por uma identidade aconteceu de duas maneiras diferentes: a primeira pelo destaque de uma forma sobre um fundo, ou seja, utilizando da consciência perceptiva para se obter a consciência de um ser/mundo real, localizado no tempo e no espaço. Usou-se inicialmente da reflexão espontânea, na qual apenas ocorre a absorção do objeto/lugar do qual sou. Segundo Kátia Maheirie, “é o tipo de reflexão que é a mais frequente no cotidiano dos sujeitos, sustentando a imaginação, a criatividade, as emoções e produzindo uma determinada compreensão a respeito deste cotidiano”. A imaginação foi usada para criação de um objeto desprovido de localização tempo-espacial, com a característica de se existir de maneira irreal.
A segunda maneira foi por meio da reflexão que é caracterizada pelo distanciamento do objeto/situação na qual se está envolvido. Nesta forma, a consciência se volta sobre si própria, não se absorvendo no objeto que visa. E, com este procedimento, o projeto se movimenta em direção ao novo, ao inexistente, em um processo de superação, transformação e manutenção de uma situação com inclusão de seu passado.
Por fim, a construção da identidade de cada grupo, plataforma inicial das coleções aqui desenvolvidas, parte do estudo das histórias pessoais e locais, das tradições e técnicas de cada indivíduo, das relações vivenciadas e das experiências afetivas e reflexivas para produção de significados singulares e coletivos. Afinal, quem somos nós.